Quando eu era mais criança que hoje eu queria ser igual o Super-Homem. Alguns anos depois descobri que ele era um E.T. e usava a cueca em cima da calça. Desencantei. É fácil para um não humano fazer o que ele faz. Mesmo assim, tentei voar como ele. Quebrei um dente na janela e resolvi mudar de herói. Conheci o Batman. Ele não tinha super-poderes, mas mesmo assim era um super-herói. Gostei da vida de superação. E ser herói já é muito, para que ser super? No fundo, todos nós queremos salvar o mundo (não é só a Madonna), enquanto não conseguimos nem nos salvar. Pretensiosos, bondosos e estúpidos candidatos a heróis somos nós. Pedia todos os dias para ser como o Batman e salvar o mundo do mal. Fui crescendo e deixei de querer ser herói. Me contentei com querer alguém que me salve. Deus salve a Rainha, Batman salve a Gothan e quem vai me salvar? Como eu vou me salvar de mim? Não há cinto-de-utilidades, capa ou máscara que alivie as dúvidas e dores de se viver. Nunca encontrei o Batman, mas descobri que o mundo está lotado de pessoas que também usam máscaras. Máscaras para tirar um pouco da cor do mundo, para destruí-lo e não salvá-lo. Vilões que com palavras cortam mais que a faca do Coringa. Se meu pranto, meu grito e minha esperança é algum tipo de Bat-Sinal, anda logo Batman, antes que eu descubra que os heróis também são mais uma das ilusões que inventamos para acreditar em dias um pouco melhores que os de hoje.
"Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontramos um Deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter o centro da nossa própria existência. E lá onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo”
(Joseph Campbell)