Gosto das reticências. Elas são o mais harmonioso e democrático sinal ortográfico. Os acentos são autoritários: têm o poder de mudar o fonema original das letras. Quem tem acento é o mais forte. O ponto final é solitário, coitado. Já nas reticências, não. São três pontos no mesmo nível, um ao lado do outro, cada um fazendo companhia ao outro, e dando continuidade a uma infinidade de situações. Ou seja, ligam a ideia dita à não dita, unem o passado com o que ainda está por vir. Além disso, elas têm mil e uma utilidades. Quando não se sabe o que dizer, exprimem-se as reticências. Quando se sabe, mas tem receio, vergonha ou medo, colocam-se as reticências. Quando se retira alguma parte dispensável do texto, usam-se as reticências para indicar a supressão. Isso mostra que alguns textos até são indispensáveis mas as reticências não.
Quando converso no msn, uso muito as reticências para indicar que não foi uma frase seca. As frases ásperas e rápidas nunca são terminadas com reticências. Além disso, usando formalidade, não se colocam reticências, apenas ponto final. A formalidade é objetiva, séria, quadradinha. As reticências são subjetivas, humanas, amorosas, emotivas. Elas são o símbolo da liberdade. Permitem que a criatividade voe longe, dando asas às possibilidades do que elas estariam representando, instigando a imaginação daquilo que vem depois delas. Mário Quintana as definiu poeticamente: "As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta do seu próprio caminho. "
...