quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Me lembro de tudo.
Eu nasci para lembrar. Minha memória é tão boa que eu me lembro de tudo. Lembro e coleciono memórias, fragmentos perdidos do que não existe mais no mundo, mas ainda vive dentro de mim. Lembro as frases dos filmes aos quais eu assisti há muitos anos, lembro da roupa que as pessoas usavam no dia em que as conheci, lembro o dia exato em que comecei a amar alguém e do motivo que me deu para deixar de amar. Me lembro porque eu me importo tanto com tudo, na esperança de que tudo se importe tanto comigo. Lembro das minhas primeiras palavras, do meu programa de TV preferido e do presente que eu tanto queria e nunca ganhei. Era meu aniversário, meus pais não tinham como comprar o meu presente e eu não entendi. Sim, me lembro das lágrimas escorrendo no meu rosto. O meu primeiro osso quebrado, não tenho como esquecer. Irmão, irmão me passou uma rasteira! Lembro de quando arrebentei uma fita verde que prendia o cabelo da minha amiga e ela a amarrou em meu braço, "para você nunca esquecer de mim". Perdi a fita e nunca a esqueci. Lembro do dia em que confessei a uma amiga que estava cada vez mais difícil sonhar. No dia seguinte, ela me deu um travesseiro. A música que tocou no meu primeiro encontro, foi terrível em uma lanchonete velha, que cai entre nós, estava às moscas. Lembro de cada palavra que me dizem e da expressão no rosto de quem as pronunciou. Lembro de tudo que vivi de bom, e lembro também de tudo que não foi tão bom assim, mas me fez mais forte. Lembro e não esqueço. Acho que não esqueço de nada na tentativa desesperada de que não se esqueçam de mim. Mas não importa, se eles não lembram eu lembro, lembro e vivo, com a memória lotada, o coração apertado e um desejo incontrolável de amar e lembrar. Se for para esquecer é melhor nem viver!