quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

SEM SINAL

Olho para o celular e, não, ele não toca, não vibra, não pulsa. Meu pobre celular teima em não acompanhar o coração da dona. Mesmo com você ainda tanto em minha mente, no meu telefone você não dá sinal. Sinal de que não ligou, não deu toquinho, não mandou mensagem, nem trote você me passa. Às vezes, eu sacudo o telefone, desligo e ligo novamente, peço alguém para testar, na tentativa de culpar a tecnologia por sua ausência prolongada no meu celular. Tem momentos em que ele toca, eu corro e leio uma mensagem da prestadora de serviços "Aviso: este cliente sonha demais". Liguei na operadora e reclamei, mas o atendente, educadamente, lindamente, como quem nunca mente, irritantemente me disse: "Senhor, repito, não tem reclamação que possa ser aberta porque ele não te liga mais! Alguma outra informação?". Sim, eu queria várias informações, tenho muitas perguntas, tantos medos, muitas forças, muitos caminhos a percorrer e o desejo intenso de encontrar um guia. Mas não é culpa da chuva, nem da topografia da cidade em que eu vivo, muito menos defeito técnico do meu aparelho celular. Meu querido celular, o único que dorme comigo há anos, não iria me passar a perna. Talvez, você esteja sem crédito ou eu não valha R$1,46 o minuto, muito menos sou um daqueles cartões com bônus cuja validade expira em 90 dias. Sou custosa, sou de validade eterna e meu único defeito técnico é falar, escrever e amar demais, tudo em excesso. O que eu preciso, fora você comigo, é encarar o fato de que realmente é você quem não aparece. Eu até já pensei em te ligar e pedir para você me ligar de volta, mas seria tão pouco para eu que preciso de muito. No entanto, mesmo aqui com tudo tão pouco assim como eu queria, sei que um dia, você ainda me liga, meu telefone toca, eu te atendo e você me convida para tomar caldo de cana, eu deitar no sofá e você na cama, para eu cantar enquanto você reclama, sujar um dos seus livros, cuidar do seu cabelo, passear na livraria, combinar os cinemas que nunca fomos, jogar o resto da minha comida para os cachorros, gritar em viva-voz que eu te amo, ou para planejar a vida que não tivemos e deixar a nossa alegria em mute, até o próximo telefonema. Se, nesse dia, meu coração estiver ocupado, aguarde o bipe e deixe o seu recado após o sinal. A nossa vida e a espera que ainda me move agradecem a sua ligação.