domingo, 13 de fevereiro de 2011

EI

Deixa-me falar da maneira que eu sei. Da forma com que expresso minha verdade mais verdadeira. Deixa-me desmascarar essa alegria velada, cortejada pela infelicidade. Esse sorriso que trago nos olhos. Deixa que eu fale com toda paixão que me cabe, incluindo toda dramaticidade. Não sei ser de outra forma. Minha vida era feita de sangue e de lágrimas. Meu corpo ainda hoje permanece tingido de cicatrizes, mas minha alma não tem cicatrizes. Quis ser livre. Tentei ser livre como em outras épocas. Livre de tudo e de todos. Ainda hoje me agrada conviver somente com a Natureza, mas os bichos não falam, portanto não discutem e sendo assim, vive-se só. Já fiz meu próprio pão numa época em que eu mesma plantava e cultivava o trigo. Moendo o trigo, fazia a farinha com que faria o pão. Já fiz minhas próprias refeições. Já fiz meu próprio vinho. Já me isolei por detestar o convívio com as pessoas. Já atravessei rios e vales, montanhas e cumes e mais montanhas. Aprendi que algumas pessoas são especiais, outras são meras pessoas. Quis ser livre, mas ainda era implume e minhas asas não tinham forças para voar. Por isso, acredito que essa seja a causa pela qual vim parar diretamente nesse quarto.  Eu te entendo. Entendo seus sonhos e sua vontade obstinada de ser uma pessoa dotada de armas e poderes para vencer a sociedade, sem destruí-la. Caro amigo, assim não se consegue nada! Jogue fora as armas, tire as grades desse coração cheio de remorso, você não foi o primeiro e nem será o último. Ergue logo essa cabeça, levanta esse olhar, tira logo esse sorriso sarcástico da cara. Esse é um conselho meu. Ah, e sim esse texto foi pra você!