quinta-feira, 10 de março de 2011
PELAS ESCOVAS DE DENTE
Todas as vezes em que escovo aos meus dentes, eu seguro forte na toalha ao lado do lavatório. Seguro à tolha como quem segura em uma mão. É que quando eu escovo aos meus dentes, me sinto extremamente só. Não é só porque eu não tenho ninguém, é que, às vezes, sinto que ninguém me tem. E olho para o porta-escovas e vejo que só divido espaço com a pasta de dentes do sorriso Colgate, fios dentais e enxaguantes bucais. Eles, que me ajudam a cuidar do meu sorriso, não me trazem uma outra escova de dente para eu dividir a vida e sorrir de verdade. Eu com tanto a dividir, multiplicar e somar, vejo impotente a vida me subtrair. Ela só não me subtrai a esperança, a vontade, o desejo. Um desejo bobo de ter que colocar a escova de dente dele na minha vida e de amar e ser amada. Desejo de todo o "seu" converter-se em "nosso". Ontem, quando fui escovar aos meus dentes, segurei na toalha dele e soltei. Não precisava da toalha. Eu não me sentia mais só. Não ali, não naquele momento. Lavei ao meu rosto, com a fé de quem lava a alma, pensei alto: "Amor, trás tua escova pra cá."