domingo, 1 de maio de 2011

PALAVRA AO TEMPO - PARTE I

Estou sentada numa pedra no alto de um rochedo observando as gaivotas. Ouço barulho do vento contra a falésia. O pio das gaivotas, quando encontra o eco, se perde no ar. Sob o ordeiro ar da brisa suave onda desliza em nosso calmo remanso. Meus olhos deslizam sobre o mar. Desço descalça, quero conhecer o caminho das pedras. Na beira da praia minhas pegadas fazem o caminho. Tenho mais ou menos uns dezoito anos. Sei, por intuição, que sou uma das mais velhas da minha turma. Nossa praia não tem onda. Já se passaram séculos e eu ali... No alto do rochedo, pensava na solidão de todas as vidas. Vejo os homens e mulheres e até as crianças ajudando a juntar pedra para um funeral. Olhares recaiam sobre mim. Todos fizeram as suas orações. Pedi aos homens não deixarem suas mulheres chorarem, que já tudo havia terminado, que se fez o ciclo. Pois no fundo mora nossa própria fragilidade exposta num corpo sem vida. Lembro de dar meu dedo mindinho da mão a uma criança pequena que me acompanhava. As mulheres e os homens então prendiam o choro.  Sentíamos a grande a perda fazer-se um vazio em nossos corpos. Como uma cabeça sem cérebro, um cérebro morto. E era isso que nos coordenava que havia morrido. De madrugada sinto minha respiração plena e calma. O perfume das floras aromáticas muito macias, camada sobre camada, sobre as quais dormia.  Caíram sobre nós aquelas gotículas de energia que brilha. E caíam essas gotinhas refletidas pela luz das estrelas e da lua. Caíam sobre nós e nem víamos. Eu podia ver como se estivesse no céu. E eu estava,e eu estou.