Falar o quê? Melhor é ouvir o sussurro das coisas. Ou seus gritos. Bonito é tocar a vida de ouvido, ouvindo e fazendo som. Uma crônica não-crônica, aguda, ou grave gravidez sem gravidade... Vou condecorar pequenos feitos quase invisíveis às almas distraídas, porém tão importantes para o acontecimento que é a vida, feito frestas cuspindo luz, respingando esperanças na tela virgem da escuridão. E mesmo que ande por aí apalpando impossibilidades, hoje eu vou mergulhar em mim, mas de um jeito inédito, sem procurar pelo fôlego ao primeiro susto. Vou até o fundo de mim, tocarei meu chão, expandirei a compreensão que o mantém sendo quintal onde descanso e repenso os incômodos, até que eles partam de vez. E ao voltar à superfície de mim, prometo tratar com mais delicadeza a nossa existência: a minha, a sua, a dos outros. E enxergarei além, minha voz dirá sentimentos sem a rede de proteção da omissão. Para amanhã, programei algumas mudanças: janelas escancaradas, portas abertas, horizontes dependurados no olhar, andar de mãos dadas com o desapego, porque aquele sonho nunca foi sonho, mas sim prisão, já que desaconteceu, antes de sequer dar-se ao gosto do acontecimento. E vou encarar o reflexo de mim no espelho da desconstrução. E que a reconstrução seja passível de melhorias. Quem puder que suma do mapa, ainda que por alguns minutos, durante o dia. Abandone as senhas, deixe de lado os provedores e as dezenas de ligações aos SAC disso e daquilo outro. Sabe como diz a canção? “Era dia de feira/Era dia de ver e de provar/Era dia de estrelas no olhar”. Dia de provocar o riso, confundir noite com dia, porque tem lua no céu claro. De concluir projetos, como aquele engavetado por anos, que inclui, entre tantos tópicos de importância gritada pela logística e pelas estatísticas, um dos que mais nos apetece: confundir-se, vez ou outra, com a felicidade. Que o experimento seja capaz de nos levar além, e nos permita conhecer novos sabores, como o das tardes em que nos dedicamos a observar o que, em dias do diariamente, sequer percebemos. Ver e provar.