domingo, 24 de julho de 2011

DOCE

Eu sou o leite e você me pôs no fogo. Me aqueceu sem que eu pedisse. Me tirou do conforto da minha Tetra Pak. Me deixou em fogo baixo. Parecia não ter pressa. E não tinha mesmo. Seu prazer estava em ficar ali, vigilante, a me observar. Mas mesmo quando aquecido em fogo baixo, uma hora o leite atinge a fervura. É a lei natural da química. Ou seria da física? Não entendo nada disso. E também não entendo nada de você. Como compreender que depois de tanta vigilância você iria se dispersar justo quando fervi? E agora? Quem vai pagar o preço pelo leite derramado? Sua única chance seria aceitar dividir essa conta comigo. Eu estou te dando essa chance. Uma chance e uma dica: cuidado para não perder o ponto. A linha entre o doce de leite e o leite azedo é tênue. E se eu azedar, alguém vai ter uma indigestão das brabas.