Um livro eu sei que a de muitas pessoas que eu conheço daria. Isso porque elas fazem questão de me dizer que a vida delas daria um livro, que eu deveria escrever sobre os revezes das suas biografias. A maioria delas fala isso de verdade, querendo mesmo que eu as entreviste e escreva um livro sobre elas, porque acreditam que são sobreviventes. Algumas delas realmente o são. Outras ainda não sabem o que é viver uma experiência valiosa. Eu gosto de ouvir as histórias que essas pessoas têm para contar, e acho que muitas delas dariam sim ótimos romances. Porém confesso que gosto da ideia de, se um dia decidir biografar alguém, que seja uma pessoa pela qual, antes de tudo, eu tenha me apaixonado pela história de vida. Que ouvi-la seja também uma experiência de descoberta para mim. E que assim eu possa misturar a prosa da vida dela com a poesia que ela me inspira. Como eu já disse, eu realmente sou uma boa ouvinte, mas acho que é por invejar um pouco aqueles que vão contando tudo, despudorados que só, querendo mais que as suas palavras sejam publicadas em folhetins. É que, quando se trata do mais profundo do que sinto, da realidade das minhas escolhas, do fundamento das batalhas pessoais que travo, não consigo verbalizar. E quando tento fazê-lo, juro, parece tudo piada, mesmo sendo sério. Sorte minha conseguir escrever histórias, inventar caras e bocas para os meus pensamentos. Nem sempre essas histórias são as melhores, as mais excitantes, mas ainda assim este é um ótimo exercício de fé, porque nem tudo é meu, nem tudo é inventado, muita coisa é emprestada. E ao me apoderar dessas situações, ou mesmo me inspirar nelas para dar vida a uma das minhas histórias, agradeço profundamente a oportunidade de tê-las conhecido. E também conheço um e outro dos quais as vidas, certamente, dariam não apenas um livro, mas também um filme baseado nele. Pessoas tão apaixonadas pela construção das suas histórias, e tão dignas de usufruírem da loucura dos sábios. Aquelas pessoas que o fazem desejar apenas ficar por perto, pode ser em silêncio mesmo, pois a presença delas já diz tanto. Que nos pequenos gestos e cotidianos afazeres promovem uma série de mudanças a sua volta. Não são perfeitas, nem pretendem ser, são inteiras nos seus desejos. Talvez aí more o segredo dessas muitas pessoas que dariam livros e filmes baseados nesses livros. Elas não pulam etapas. Suas vidas são vividas na intensidade e mansidão que lhes cabe. Elas aceitam o que a vida oferece, e então transformam esses acontecimentos em cenas de uma vida que é delas e de ninguém mais. Nem dos livros, tampouco dos filmes. Vai saber... De repente uma ou duas historias da sua vida pode dar em uma canção... Ou em canções.