terça-feira, 23 de agosto de 2011

HOMENS BONITOS

_nyal_ - Flickr.com

Eu caminhava lentamente, distraída, quando senti duas mãos delicadas pousarem firmes em meus ombros — feito os pés de um passarinho. E quando parei, senti uma cabeça entre as minhas omoplatas — uma testa, um nariz, um bico. Eu já sabia quem era, mesmo sem precisar olhar. Era um homem bonito. Os homens bonitos são mais sutis: planadores, asas-delta. Chego mesmo a pensar que eles sempre estiveram por aí, eu é que não estava olhando na direção certa. O homem bonito tem, antes de tudo, o sorriso. Sorri com a facilidade com que o vento sopra. Não precisa de motivos para sorrir. E, quando é preciso, gargalha. Feito criança ouvindo piada. Preste atenção em um homem bonito. Pois ele faz aquele silêncio de aluno interessado. Não reage. Aceita o impacto da novidade, da diferença e até mesmo do desagrado. Ele aprendeu — ou sempre soube — a paciência. O homem bonito trabalha. Como trabalha! Parece que não tem descanso. Mas descansa no trabalhar. O degrau, que para um homem comum é mais um esforço, para ele é um repouso, uma pausa no se elevar. Elevando-se em descanso, o homem bonito permanece, não arreda pé. Sabe o que não, sabe o que quer. Já está lá — faz um trailler no pensamento — antes mesmo de chegar. O homem bonito abraça. Abraço de peito no peito. É a sua marca. E tem sempre um "eu te amo" na ponta da língua, que ele quase nunca diz para outro homem  bonito ou não —, mas nem precisa: o homem bonito ouve eu-te-amos com audição canina. Ouve "eu te amo"do mendigo na esquina, da criança desconhecida, da mulher agitada e querida, do homem comum e bonito. O homem bonito faz filhos, brinca com eles, lhes conta histórias e guarda as deles. Ser pai é sua profissão. O homem bonito é o pátio onde pousa o avião. E é tão gentil — mas tão gentil o homem bonito — que faz o avião sentir-se maior do que ele mesmo. O homem bonito pode ouvir, e é por isso que eu digo: eu vos amo, homens bonitos.