domingo, 14 de agosto de 2011

PUXE UMA CADEIRA


Faça-me companhia, é o que peço. Sou pedinte humilde, meu caro, que não se importa com etiquetas ou rótulos, tampouco com dissabores. Abro a boca e aguardo ser alimentada pela sua história, querendo mais é que o mundo acabe em páginas em branco para eu recomeçá-lo dos alicerces da minha imaginação, numa dança de palavras que se encontram em coreografia inusitada. Sirva-se de mim, do pecado aos bons costumes, paredes, assoalho, no jardim da nobre casa apelidada redenção. E entre um gole e um toque, peço que estreite laços. Assopre-as em meus ouvidos. Invente-as se for preciso, que hoje não me importo. Hoje não. Disseram-me que, se um dia me sentisse só, bastaria o sentir para que viessem todos: sonhos descabidos e irrealizáveis, afetos martirizados pelas mágoas, amizades interditadas pelo tempo e o espaço impostos, sempre prontos a angariar passado. Acontece que hoje escolho a sua companhia, celebrando um remate amansado. Então, peço que fique, puxe uma cadeira, sente-se e sinta-se em casa, em um lar que é seu e onde conseguimos nos tornar proprietários de memórias na planta a serem construídas e usufruídas daqui a 24 meses, pagamento parcelado com o maior carinho e sem juros. Depois, podemos enveredar pelas estradas da partilha, das concessões, do embrenhar dedos ousados em indicações de saída mais do que necessária, opção há tanto tempo protelada pela ingênua – porém temida – caminhada rumo à novidade. A novidade é que, meu caro, ando mais à disposição do que jamais estive. E quero tardes acompanhadas não apenas pelas chuvas de verão, mas também pelo olhar reconhecido, pelo dizer sinceridades, até que haja, entre nós, o mais próximo de uma verdade desinibida. Neste agora me sinto deixada por vezes de lado, ao avesso, e reivindico apenas um voto de confiaça, porque aprendi a comer em porções e a beber aos goles a honra de estar viva. Acho que nada mais justo é me deixar viver. Porque hoje, preciso da companhia de ser acompanhada por você.