sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sobre Redução.




Vejo muita gente, inclusive pessoas que eu julgava meus amigos, concordarem e promoverem a redução da maioridade penal, como se fosse algo corriqueiro, algo “normal”, algo que devesse ser feito.  Redução é um tema complexo, tema preconceito, um golpe!
Acompanhei as duas votações pela televisão. Na primeira, observei deputados convictos, decididos. Os que votaram SIM, já eram esperados, as bancadas de sempre, com os argumentos de sempre. Os opositores votaram NÃO, neste momento vi rostos novos, me surpreendi, mas sabia que a luta não iria acabar por ali. Eis que surge o golpe orquestrado por Eduardo Cunha, já é de se esperar, mas assim, tão na cara. Foi um tapa na cara da sociedade. Devem nos julgar como tapados, só pode. Mas como quem decide é ele, você já deve saber o andar da carruagem. Vamos à segunda votação, nesta não havia a participação dos jovens, coincidência? Não, manobra! Os que votaram “não ou se abstiveram”, da noite pro dia (literalmente), mudaram seu voto pro “sim”.
O que me deixa realmente indignada, é que todos sabem quem vai sofrer com a Redução: os pobres, negros, favelados ou não. Os filhos privilegiados, que moram em seus condomínios fechados, não irão sofrer. “Porque eles não se envolvem”, “Porque são crianças de bem”, ouço muito isso.  Não, não iram sofrer, porque a lei cede para quem tem sobrenome. A lei é carinhosa com quem é “filho de alguém” e não é de hoje, nem de ontem.
Não é vitimismo, é realidade! Se você que é favorável à redução, acredita na “meritocracia”, dê um pulo em um bairro desfavorecido da sua cidade, acredito que você não precisará ir muito longe.  Ande pelas calçadas irregulares, pelas ruas sem pavimentação, pelas pontes improvisadas com madeiras de construção.  Ande pelos morros, em meio aos barracos feitos de papelão, cumprimente à mulher que lhe sorri na janela, pois apesar de tudo, ela está feliz. Suba à favela, desça à ladeira. Vá à escola, visite as salas de aula, sem cadeiras, sem merenda, sem quadra de esporte, sem professor, sem estrutura. Ah, não se esqueça de ir ao banheiro, cheira mal né?! Está se sentindo mal? Vá ao posto de saúde, espere duas ou três horas para ser atendido, chegou sua vez. Não tem médico para te atender? Volte outro dia. Dê uma olhada nos rostos das crianças, nas suas roupas, nas brincadeiras improvisadas. Brinquedos? Aonde? Está quase acabando seu passeio, está com medo? Está confuso? Aproveite que está indo embora e vá à praça ver aonde os jovens brincam nos domingos à tarde. Você andou, andou e aposto que não encontro praça alguma. Lazer? Pra quê jovens favelados precisam de lazer? “Precisam trabalhar para ser como eu, precisam desejar o que eu tenho, precisam se esforçar mesmo sabendo que nunca vão chegar aos meus pés, nunca vão ser como eu. E eles só existem, só estão nesta situação para eu me sentir superior.” Você deve ter pensado.
Pronto, volte para sua casa, entre no seu carro, feche o vidro, afinal você não precisa saber que eles estão ali. Ligue sua música preferida, e esqueça que eles existem. Entre em sua casa, sua família o espera, sua esposa? Com um bolo quentinho saindo do forno. Volte para sua vida miserável sem miséria!  
Eu? Sou totalmente contra à Redução da maioridade Penal, acredito que o problema deva ser solucionado na sua raiz, mudando o ambiente social, com escolas dignas, com estrutura. E isto não é um favor, é obrigação do estado! Redução? Ela não é e nunca foi a solução, só vai prender os filhos dos outros! Ah, esqueci, você não se importa, afinal pimenta nos olhos dos outros, é refresco!