MUTANTE

Mudo. Preparo as malas, arrumo as roupas, pego meu tênis velho. Velharia empoeirada em cima do criado-mudo trás recordações de um passado presente, no qual não há mais futuro. Jogo fora as fotos fotografadas. Amasso as cartas, os bilhetes, desamasso o amor. Dou um amasso no meu amor. Deixo as críticas, as fofocas, o remorso, as mágoas, os arrependimentos e as vontades a vontade. Pego com carinho, de leve, a leveza do sorriso diário, da preocupação, da ligação ligada. As mudanças nos transformam. Eu sou mutante: Mudo o cabelo, mudo a roupa, mudo o corte, mudo a atitude, mas não mudo meu caráter. Mudo a fala, a estação, mudo a maneira de falar. Mudo mudando em uma mudança constante. Quando mais Mudo, mas vejo que algumas pessoas deveriam ter nascido mudas. Fica à dica.