segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
EU E ESSE MEU JEITO DE SER
Eu vim com dois defeitos de fábrica: um cérebro pensante e sentimentos pulsantes. Não sei a quem culpar por esse erro, mas eu vejo, sinto, percebo, falo, escuto e, portanto, penso e tento não me enganar. O defeito não é defeituoso para mim, mas para quem se aproxima e eu até entendo as queixas, deve ser mesmo muito complicado me tolerar. Eu não sei ver uma injustiça e fingir que não vi. Eu não consigo sentir ou perceber a real intenção de alguém e seguir o jogo. Eu não consigo perceber e enlouquecer pensando que não era nada disso, não sou capaz de me iludir para tornar real a ilusão preguiçosa de alguém. E isso incomoda. Eu incomodo. Incomodo, como me incomoda o mundo em que vivemos. Mundo que, às vezes, me dá nojo. E o pior de sentir nojo desse mundo no qual vivo é não poder sequer me dar ao luxo de vomitar: alguém seria capaz de me pedir para limpar!
REBOBINE, POR FAVOR!
Eu mantinha meu maior orgulho, a humildade. Essa voz rouca, essa vontade de sair. “De repente as coisas somem” ele disse. No início você duvida da frase, mas depois constata que isso acontece. De fato coisas somem. Os colegas somem, aquela vontade louca de viver a vida se esconde em meio as dúvidas e decepcões do mundo moderno. Aquela mania de rir adoidado, aquele amigo que virou namorado, o livro que foi autografado aonde foi parar? A vida leva da gente quem a gente deixa a vida levar. E eu que sempre confiei em conto de fadas, percebi que as fadas não te levam nas asas. (Continua).
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Estou invisível, vivendo invisível anonimamente como todo ser invisível e anônimo, que não é anônimo para si mesmo. É inegável que sou importante para mim mesmo. Invisível no mundo de concreto. O mundo não é invisível. As cores saltam aos olhos. Voam, pulam como peixe na piracema, encantando os turistas.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
VAI QUE...
Vai que o mundo desabe, justo hoje, sobre nossas cabeças desprotegidas. Um chapéu, então, flores e cores, decoração de jardins nessas nossas cabeças que, mesmo quando ocas, deitam no colo dos amores e pensam melhor. Pensam com afeto. Vamos logo pôr as roupas no varal, a comida no fogo; vamos preparar com antecedência os preparativos com hora marcada, aniquilando a certeza de que o tempo é o do relógio e conduzido pelos prendados. Vamos pregar uma peça no tempo, porque ele, meus caros, é um doido varrido. Merece um carnaval de horas desembestadas. E dá-me cá tua mão, então! Vamos cultivar um enlace, ainda que seja no susto, nos valendo do que Vinicius disse em seu poema: “eu te peço perdão por te amar de repente / embora o meu amor seja velha canção nos teus ouvidos”... E cantarolar sentimentos nessa antecipação romântica. Vamos endoidecer de vez de amor dos sinceros, que é para que o fim seja um começo dos mais inspirados; e tropecem os minutos diante dos beijos trocados, nos arrabaldes dos desfechos. Mesmo que engasgue, que o corpo trema numa dança desengonçada: diga. O que pertence ao teu sentimento, diga num repente, numa bossa, num rap, numa poesia. Desembuche que é pra não deixar as querenças interrompidas. Diga com a nudez oferecida pela urgência dos segundos. Vai que hoje esse mundo, numa receita sem medidas, faça de nós gatos e sapatos e nos ensine, na alegoria das suas idas e vindas, a superarmos o medo. E desabe sobre nossas cabeças as idéias, das que ao invés de pôr abaixo o mundo - e por serem nascidas no colo do afeto –, construam um tempo sem tempo para as declarações de amor, para as festas às sextas-feiras; para descansar o olhar no horizonte, para uma política mais justa, para a tolerância. E para as gargalhadas que, dizem por aí, fazem bem à saúde.
DENTRO DE MIM,
Falar o quê? Melhor é ouvir o sussurro das coisas. Ou seus gritos. Bonito é tocar a vida de ouvido, ouvindo e fazendo som. Uma crônica não-crônica, aguda, ou grave gravidez sem gravidade... Vou condecorar pequenos feitos quase invisíveis às almas distraídas, porém tão importantes para o acontecimento que é a vida, feito frestas cuspindo luz, respingando esperanças na tela virgem da escuridão. E mesmo que ande por aí apalpando impossibilidades, hoje eu vou mergulhar em mim, mas de um jeito inédito, sem procurar pelo fôlego ao primeiro susto. Vou até o fundo de mim, tocarei meu chão, expandirei a compreensão que o mantém sendo quintal onde descanso e repenso os incômodos, até que eles partam de vez. E ao voltar à superfície de mim, prometo tratar com mais delicadeza a nossa existência: a minha, a sua, a dos outros. E enxergarei além, minha voz dirá sentimentos sem a rede de proteção da omissão. Para amanhã, programei algumas mudanças: janelas escancaradas, portas abertas, horizontes dependurados no olhar, andar de mãos dadas com o desapego, porque aquele sonho nunca foi sonho, mas sim prisão, já que desaconteceu, antes de sequer dar-se ao gosto do acontecimento. E vou encarar o reflexo de mim no espelho da desconstrução. E que a reconstrução seja passível de melhorias. Quem puder que suma do mapa, ainda que por alguns minutos, durante o dia. Abandone as senhas, deixe de lado os provedores e as dezenas de ligações aos SAC disso e daquilo outro. Sabe como diz a canção? “Era dia de feira/Era dia de ver e de provar/Era dia de estrelas no olhar”. Dia de provocar o riso, confundir noite com dia, porque tem lua no céu claro. De concluir projetos, como aquele engavetado por anos, que inclui, entre tantos tópicos de importância gritada pela logística e pelas estatísticas, um dos que mais nos apetece: confundir-se, vez ou outra, com a felicidade. Que o experimento seja capaz de nos levar além, e nos permita conhecer novos sabores, como o das tardes em que nos dedicamos a observar o que, em dias do diariamente, sequer percebemos. Ver e provar.
SE VOCÊ NÃO TEM FILHOS
Se você não tem filhos não sabe uma porção de coisas, mas ouve dizer. Só que tem outras que não te dizem e que vou te contar agora. São coisas pequeninas, quase que insignificantes, mas que somadas representam uma vida nova tão rica e abundante que chega a ser pesada. Porque é demasiadamente intensa e carregada a vida de quem tem filhos pequenos. Quando você os tiver, verá que por todos os lados terá sinais da infância transbordando na sua vida de adulta. Naquela sua sapatilha delicada, aquela toda feita à mão, que você queria usar numa tarde de shopping com as amigas — a tal tarde de shopping que nunca mais acontecerá, ou pelo menos não até seus filhos completarem 15 anos. Pois então, voltando à sapatilha que você foi buscar no armário e, quando colocar, notará que tem areia dentro dela. Areia, um bocado dela. “Ai, aquele dia no parquinho...”, se lembrará arrependida de uma tarde em que ia só dar uma passadinha no térreo, mas acabou sentando no tanque de areia e... bom, filhos pequenos... Se você não tem filho, deve estar sempre limpinha e asseada, não é? Aproveite porque, quando os tiver, aquela camisa branca ficará amarelada e, enquanto eles forem bebês, você sempre estará com cheiro de leite azedo, viverá as voltas com paninhos, tentando se limpar do vaivém de leite das mamadas de seu pequeno. E, também, quando você tiver filhos pequenos, uma noite qualquer, antes do banho, vai notar que tem massinha no seu sutiã, ou purpurina no seu queixo, ou, então, quando estiver naquele jantar chique do seu trabalho, vai perceber que esqueceu de esfregar a tatuagem de macaco que fizeram na sua mão naquela festinha a que levou os pimpolhos mais cedo. “Não, não é nada”, dirá sem graça, apoiando a outra mão sobre o rabo do macaco, quando lhe perguntarem o que você tem aí, logo abaixo do anel brilhante. Quando você tiver filhos, há de se tomar cuidado para nunca deixar a bolsa cair. Se por ventura acontecer no elevador do escritório de virar tudo no chão, siga meu conselho e não aceite ajuda. Guarde logo a cabeça da Barbie que estava dentro do zíper, corra para pegar a dentadura de vampiro, esconda rapidamente aquele final de pirulito que, a essa altura, já grudou nos lencinhos umedecidos e, por fim, se tiver bolinha de gude, torça para o elevador cair no poço e morrerem todos. Menos você, claro. Na sua casa, a decoração nunca mais será a mesma. A estante impecável terá, ao lado do porta-retratos de madrepérola, uns M&Ms melecados que você tentou esconder da sua filha e esqueceu ali. Periga ter uma fralda de cocô perdida num armário, e, certamente, pecinhas de encaixe irão ornar com o vaso de orquídeas na mesa de centro. Esqueça o sofá limpo, o cobertor claro, as paredes lisas. Sempre haverá um rastro de sorvete ou de mel pelos móveis, uns pedaços de mamão, um tanto de caos na sua vidinha, antes tão impecável. E acredite, ainda não tenho filhos, apenas um irmão caçula.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
HOMENS BONITOS
Eu caminhava lentamente, distraída, quando senti duas mãos delicadas pousarem firmes em meus ombros — feito os pés de um passarinho. E quando parei, senti uma cabeça entre as minhas omoplatas — uma testa, um nariz, um bico. Eu já sabia quem era, mesmo sem precisar olhar. Era um homem bonito. Os homens bonitos são mais sutis: planadores, asas-delta. Chego mesmo a pensar que eles sempre estiveram por aí, eu é que não estava olhando na direção certa. O homem bonito tem, antes de tudo, o sorriso. Sorri com a facilidade com que o vento sopra. Não precisa de motivos para sorrir. E, quando é preciso, gargalha. Feito criança ouvindo piada. Preste atenção em um homem bonito. Pois ele faz aquele silêncio de aluno interessado. Não reage. Aceita o impacto da novidade, da diferença e até mesmo do desagrado. Ele aprendeu — ou sempre soube — a paciência. O homem bonito trabalha. Como trabalha! Parece que não tem descanso. Mas descansa no trabalhar. O degrau, que para um homem comum é mais um esforço, para ele é um repouso, uma pausa no se elevar. Elevando-se em descanso, o homem bonito permanece, não arreda pé. Sabe o que não, sabe o que quer. Já está lá — faz um trailler no pensamento — antes mesmo de chegar. O homem bonito abraça. Abraço de peito no peito. É a sua marca. E tem sempre um "eu te amo" na ponta da língua, que ele quase nunca diz para outro homem — bonito ou não —, mas nem precisa: o homem bonito ouve eu-te-amos com audição canina. Ouve "eu te amo"do mendigo na esquina, da criança desconhecida, da mulher agitada e querida, do homem comum e bonito. O homem bonito faz filhos, brinca com eles, lhes conta histórias e guarda as deles. Ser pai é sua profissão. O homem bonito é o pátio onde pousa o avião. E é tão gentil — mas tão gentil o homem bonito — que faz o avião sentir-se maior do que ele mesmo. O homem bonito pode ouvir, e é por isso que eu digo: eu vos amo, homens bonitos.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
ANJOS POR ACASO
Quando se nasce e de nascido experimenta-se a gana por vida. E a curva indica perigo ou já aponta o acidente. Quando se nasce assim, desse jeito um tanto quanto desmedido, vem logo o rótulo e gruda na cara da gente. Mas quem disse que queremos abrandar a dor e costurar as feridas? Não buscamos cicatrizes, veja bem... Queremos mais é que não haja corte. Então, que tal fazer a corte a essa paz que não tem rótulo como este que foi grudado na cara da gente? Porque quando se nasce cuspido, sabe? Caindo em qualquer canto da vida e lambuzando-se de abandonos. Quando se nasce assim, logo nos cravam as tachas nas mãos e crucificam nosso futuro. Não que queiramos pular nossa infância, caindo logo de cara no futuro das responsabilidades e ilusões adultas... Queremos sim celebrá-la até que, na idade adulta, nesse futuro mais catártico do que brincante, nós possamos sorrir sem as fendas que nos causaram as tristezas pirracentas. Entende o que digo? Quando se nasce assim, em qualquer lugar, sem laços que acolham ou abraços que acalmem, muros altíssimos vêm de brinde. Alguns de nós, espertos que só, aprendemos a ficar em cima deles, observando o movimento. Outros não têm tanta sorte, e dão de querer derrubar os ditos. Passam a vida tentando transpassá-los. Poucos alcançam este objetivo. Você me ensinou a duvidar da sorte e confiar nos bons ventos. Tirou de mim o absolutismo, essa certeza falseada. Senti-me livre... E eu que nasci às avessas, comprometida com as profundezas dos sentimentos, devo-lhe o exorcismo de um rótulo e outro; de um abismo e outro. Devo-lhe a ousadia do meu desejo, não de ficar em cima do muro ou socá-lo até ferir as mãos, mas sim o de me reinventar com asas. E o mais tocante disso tudo é que não precisou muito. Bastou que acreditasse na minha existência; que me chamasse pelo nome, concedendo-me identidade... Que escutasse o que eu tinha a dizer. Quando se nasce assim... Vou fazer uma dobradura e colocar no pires, junto a sua xícara de café quente. Nesse papel cor de sol, haja o que houver, perdurará meu sentimento de gratidão. Sou grata a você por ser quem é, porque quando se nasce embalado pelo desconforto das máscaras, a honestidade do olhar conquista não só a alma da gente, mas também parte da nossa ideologia. E nos dá fôlego. Pessoas também podem se tornar anjos, mesmo que por acaso.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
O QUE AINDA CONTINUO QUERENDO DIZER...
Não quero alguém que me faça sorrir sempre, basta não me fazer chorar. Não quero alguém que me dê motivo para fugir, quero alguém que me convença a ficar. Não quero alguém que me dê presentes, quero alguém que se a dê a mim de verdade. Não quero alguém sem dúvidas, quero alguém com a única certeza de que merece ser feliz. Não quero alguém com dinheiro, mas alguém que me faça sentir feliz mesmo andando de ônibus. Não quero alguém sofisticado, quero alguém com a simplicidade de um sorriso. Não quero alguém bonito, quero alguém que não me faça precisar apelar para a beleza física como razão para amar. Não quero alguém perfeito, quero alguém que complete os meus defeitos. Não quero alguém que me ame tanto quanto eu o amo, é suficiente que me permita amar. Não quero alguém sem problemas, quero que juntos sejamos a solução. Não quero alguém vazio, quero alguém com a alma linda e repleta de botões, que eu ainda espero desabrochar. Quero alguém que me ensine a não usar tantos "que". Mas se for para me procurar só quando precisar, peço apenas que precise de mim a todo momento. Não quero qualquer um, não quero muito, só peço um.
domingo, 14 de agosto de 2011
PUXE UMA CADEIRA
Faça-me companhia, é o que peço. Sou pedinte humilde, meu caro, que não se importa com etiquetas ou rótulos, tampouco com dissabores. Abro a boca e aguardo ser alimentada pela sua história, querendo mais é que o mundo acabe em páginas em branco para eu recomeçá-lo dos alicerces da minha imaginação, numa dança de palavras que se encontram em coreografia inusitada. Sirva-se de mim, do pecado aos bons costumes, paredes, assoalho, no jardim da nobre casa apelidada redenção. E entre um gole e um toque, peço que estreite laços. Assopre-as em meus ouvidos. Invente-as se for preciso, que hoje não me importo. Hoje não. Disseram-me que, se um dia me sentisse só, bastaria o sentir para que viessem todos: sonhos descabidos e irrealizáveis, afetos martirizados pelas mágoas, amizades interditadas pelo tempo e o espaço impostos, sempre prontos a angariar passado. Acontece que hoje escolho a sua companhia, celebrando um remate amansado. Então, peço que fique, puxe uma cadeira, sente-se e sinta-se em casa, em um lar que é seu e onde conseguimos nos tornar proprietários de memórias na planta a serem construídas e usufruídas daqui a 24 meses, pagamento parcelado com o maior carinho e sem juros. Depois, podemos enveredar pelas estradas da partilha, das concessões, do embrenhar dedos ousados em indicações de saída mais do que necessária, opção há tanto tempo protelada pela ingênua – porém temida – caminhada rumo à novidade. A novidade é que, meu caro, ando mais à disposição do que jamais estive. E quero tardes acompanhadas não apenas pelas chuvas de verão, mas também pelo olhar reconhecido, pelo dizer sinceridades, até que haja, entre nós, o mais próximo de uma verdade desinibida. Neste agora me sinto deixada por vezes de lado, ao avesso, e reivindico apenas um voto de confiaça, porque aprendi a comer em porções e a beber aos goles a honra de estar viva. Acho que nada mais justo é me deixar viver. Porque hoje, preciso da companhia de ser acompanhada por você.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
A SUA VIDA DARIA UM LIVRO?
Um livro eu sei que a de muitas pessoas que eu conheço daria. Isso porque elas fazem questão de me dizer que a vida delas daria um livro, que eu deveria escrever sobre os revezes das suas biografias. A maioria delas fala isso de verdade, querendo mesmo que eu as entreviste e escreva um livro sobre elas, porque acreditam que são sobreviventes. Algumas delas realmente o são. Outras ainda não sabem o que é viver uma experiência valiosa. Eu gosto de ouvir as histórias que essas pessoas têm para contar, e acho que muitas delas dariam sim ótimos romances. Porém confesso que gosto da ideia de, se um dia decidir biografar alguém, que seja uma pessoa pela qual, antes de tudo, eu tenha me apaixonado pela história de vida. Que ouvi-la seja também uma experiência de descoberta para mim. E que assim eu possa misturar a prosa da vida dela com a poesia que ela me inspira. Como eu já disse, eu realmente sou uma boa ouvinte, mas acho que é por invejar um pouco aqueles que vão contando tudo, despudorados que só, querendo mais que as suas palavras sejam publicadas em folhetins. É que, quando se trata do mais profundo do que sinto, da realidade das minhas escolhas, do fundamento das batalhas pessoais que travo, não consigo verbalizar. E quando tento fazê-lo, juro, parece tudo piada, mesmo sendo sério. Sorte minha conseguir escrever histórias, inventar caras e bocas para os meus pensamentos. Nem sempre essas histórias são as melhores, as mais excitantes, mas ainda assim este é um ótimo exercício de fé, porque nem tudo é meu, nem tudo é inventado, muita coisa é emprestada. E ao me apoderar dessas situações, ou mesmo me inspirar nelas para dar vida a uma das minhas histórias, agradeço profundamente a oportunidade de tê-las conhecido. E também conheço um e outro dos quais as vidas, certamente, dariam não apenas um livro, mas também um filme baseado nele. Pessoas tão apaixonadas pela construção das suas histórias, e tão dignas de usufruírem da loucura dos sábios. Aquelas pessoas que o fazem desejar apenas ficar por perto, pode ser em silêncio mesmo, pois a presença delas já diz tanto. Que nos pequenos gestos e cotidianos afazeres promovem uma série de mudanças a sua volta. Não são perfeitas, nem pretendem ser, são inteiras nos seus desejos. Talvez aí more o segredo dessas muitas pessoas que dariam livros e filmes baseados nesses livros. Elas não pulam etapas. Suas vidas são vividas na intensidade e mansidão que lhes cabe. Elas aceitam o que a vida oferece, e então transformam esses acontecimentos em cenas de uma vida que é delas e de ninguém mais. Nem dos livros, tampouco dos filmes. Vai saber... De repente uma ou duas historias da sua vida pode dar em uma canção... Ou em canções.
domingo, 24 de julho de 2011
DOCE
Eu sou o leite e você me pôs no fogo. Me aqueceu sem que eu pedisse. Me tirou do conforto da minha Tetra Pak. Me deixou em fogo baixo. Parecia não ter pressa. E não tinha mesmo. Seu prazer estava em ficar ali, vigilante, a me observar. Mas mesmo quando aquecido em fogo baixo, uma hora o leite atinge a fervura. É a lei natural da química. Ou seria da física? Não entendo nada disso. E também não entendo nada de você. Como compreender que depois de tanta vigilância você iria se dispersar justo quando fervi? E agora? Quem vai pagar o preço pelo leite derramado? Sua única chance seria aceitar dividir essa conta comigo. Eu estou te dando essa chance. Uma chance e uma dica: cuidado para não perder o ponto. A linha entre o doce de leite e o leite azedo é tênue. E se eu azedar, alguém vai ter uma indigestão das brabas.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
HÁ MAIS!
Há um quarto a mais na casa. Uma suíte onde não se pensava haver nada. Um guarda-roupa, uma cama, uma estante e um banheiro comprido e espaçoso. Um quarto de hóspedes sem hóspedes que pode ser usado pelo dono da casa. Há um canto a mais no ar. Um som onde só havia silêncio e barulho. Uma nota, uma melodia, um arranjo e uma canção de letra delicada. Uma música procurando o seu ouvinte. Há um pensamento a mais na mente. Uma idéia onde só havia oposição. Uma palavra, uma expressão, um sentido e uma história desmemorada e conhecida. Uma vida contando seu rumo. Há um sorriso a mais na cara. Uma alegria onde só havia dentes. Uma brecha, uma abertura, uma expansão e uma fé capaz de mover a si mesmo. Um encontro de si consigo. Há um tempo a mais, um sonho a mais, um milagre a mais, um detalhe a mais... de tudo um pouco a mais guardado entre as dobras do que se vê. E há o espanto — libertador — desses achados.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
PALAVRAS CRUZADAS
Sou brega, eu assumo! E quando o assunto é amor sou antiguada, sou chata e minha chatice é nata. Gosto de palavras cruzadas, andar de mãos dadas, comer marmelada. Minhas rimas são péssimas, minha lingua afiada, mas como você notou as coitadas não deram em nada. Sou irritante, simples na minha simplicidade, vivendo dia à dia e a cada ano aumentando um ano na minha idade, que fase! Olho nos olhos de cada amigo, ofereço meu ombro, se precisar dou abrigo. Tenho cabeça pensante, sou amante, não tenho dinheiro no bolso, nem anel de diamante. São fases da vida, é como escolher a fase certa para cortar o cabeço, é como festejar o ano novo, o ano inteiro. Sou apaixonada, levo comigo um sorriso no rosto, o beijo do namorado, todo o amor e o carinho que por mim foi conquistado. Gosto de deitar abraçada, sentar na sacada, andar na beirada da rua. Sentir o frio na barriga, entrar em uma briga e sair dela sem falar nada. Achar que tudo é palhaçada, tentando ser engraçada, e não conseguir arrancar nem uma gargalhada. Essa sou eu, essa é a melhor fase da minha vida. Espero que em todas as estações, que em todos os trens você esteja a me esperar. Que todas as manhãs sejam domingo para que eu possa dormir um pouco mais, acordar e te levar café na cama. Sorrir para você e esperar você dizer que me ama. Te olhar de rabo de olho, saber que você será pra sempre minha inspiração, continuação. Sou louca, eu sei! Sou forte, inabalável na balada, tô na pista. Não nasci pra nada, nasci pra ser seu tudo, você nasceu pra ser minha alma.
HOJE, O CÉU ECLIPISCOU PRA MIM!
Tem gente que não sabe cantar. Tem gente que não sabe estalar os dedos. Tem gente que não sabe dar coió — tem gente que nem sabe o que é coió. Eu já não sei piscar. Claro que todo mundo pisca involuntariamente para lubrificar os olhos, mas estou falando aqui do piscar intencional para paquerar ou simplesmente dar um sinal para uma outra pessoa. Pois não sei piscar. Quero piscar um olho, pisco os dois. Lembram-se daquela brincadeira de Detetive, Vítima e Ladrão, em que o Ladrão fazia suas Vítimas piscando o olho e o Detetive ficava tentando descobrir quem era o piscador? Nunca me dei bem naquela brincadeira, pelo menos não quando eu era o Ladrão. As prováveis Vítimas não se deixavam atingir pelo meu piscar deficiente. Piscar é um charme. É de apaixonar. E, se as intenções são só amigáveis, piscar é capaz de proporcionar uma duradoura amizade. Então estou assim, meio apaixonada, meio melhor amiga de quem piscou para mim essa semana: o Céu, com seu olho de Lua. Foi um piscar lento, como são as coisas do Céu. Começou na minha derradeira volta do curso e só terminou quase uma hora depois. Deu tempo de chegar em casa, preparar um miojo rápido. Um piscar perfeito, desses de quem sabe mesmo o que faz — coisa de Céu. Nesse demorado piscar, enquanto a Lua me apaixonava, o Céu mandava o sinal: "É isso aí, tá no caminho certo. Continue firme. Bom trabalho". E eu quis piscar de volta, dizer que havia entendido o recado, confirmar a amizade. Mas, como já disse, eu canto, estalo dedo e faço coió, mas piscar não é o meu forte. Sorte minha que o Céu é um sujeito esperto, sabedor das coisas. Ele com certeza percebeu que uma daquelas minhas piscadelas, supostamente involuntária, não foi apenas para lubrificar os olhos.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
UM CARTA ESCRITA POR MIM, PRA MIM
Um dia, e não deve demorar muito, vou notar fios brancos no meu cabelo. Pior: um dia, vou procurar se restaram alguns fios preto no meu cabelo. Vou sentir algumas dores nas pernas, ou nas costas, ou a carga da vida será pesada para mim. E, se eu pudesse deixar um recado para essa mulher que eu serei então, eu pediria, talvez, para que ela fosse doce. Quando eu for velha, desejo manter alguma alegria. Ainda que a amargura me seja tentadora, que eu possa ver alguma beleza na vida. Que eu possa ver beleza em mim mesma, mesmo que meu rosto esteja amassado, os olhos um pouco apagados, que eu me lembre do quanto achava ridículo as mulheres lotadas de botox e não caia na armadilha de esticar-me toda para tentar ser aquilo que não preciso mais ser. Que eu me lembre desse tempo de hoje, e aceite essa outra forma de beleza, senão sem dores, com muita dignidade. Que eu tenha mãos firmes para passar base e, quiçá, delineador. Que eu saiba o valor e o momento de um bom perfume, de um bom penteado, de uma roupa bem cortada. Que eu não caia na tentação de vestir-me como uma velha ou – pior – que eu não caia no ridículo de usar roupas parecidas com as das minhas netas. Que eu não implique com a vida, com o tempo, com o meu companheiro. Aliás, se ele se tornar irritante, diabético, surdo ou o que quer que seja, desejo me lembrar das promessas antigas, do companheirismo de uma vida, das inúmeras vezes em que eu, jovem, fui irritante e surda, e ele esteve ao meu lado. Que eu possa relevar as frases repetidas, que eu tenha paciência para as pequenezas dele, e procure evitar as minhas. Que eu saiba rir da vida, de mim mesma, de nós dois. Mesmo que as piadas sejam péssimas; as gargalhadas não deveriam se tornar tão raras quanto as caminhadas ou as corridas. Que eu possa, ainda, fazer meu companheiro rir, mesmo que me dê uma preguiça danada. Que eu não cobre dos meus filhos, netos, amigos, mais do que eles me ofereçam. E que, em sendo oferecido pouco deles a mim, que isso não me amargure; mesmo que seja infinitamente injusto e cruel – e deve ser –, que eu tenha aceitação e alegria. Que eu tenha assunto e conhecimento, que eu tenha prazeres e encantamentos, sabedoria e discernimento. Que eu me mantenha lendo bastante, para que eu possa achar assunto nos jornais, nas revistas, nos novos e nos velhos livros. Se não me restar amigos, ou amores, que o conhecimento me salve de uma rotina infinitamente chata e comprida. Que eu aprenda a apreciar flores, comida, música, ou qualquer uma dessas coisas oferecidas em abundância pela vida, porque, assim, mesmo que me falte o resto, ainda terei o gosto ou o som do que me faz feliz. E, enfim, se eu pudesse deixar um último recado a essa velhinha que eu serei, eu pediria que ela lembrasse da menina que foi um dia e que fosse gentil com essa moça, com seus próprios erros, acertos, escorregadas e tentativas vãs. Que ela não fosse muito rígida com a vida, e nem com essa jovem abusada e tola que, um dia, sentou-se num jardim ensolarado para deixar-lhe uma pequena carta, cheia de palavras e idéias que, talvez, um dia, não façam, absolutamente, o menor sentido.
terça-feira, 12 de julho de 2011
CARÊNCIA
Do que careço é quem?, perguntou-me outro dia. E me lembro apenas da sensação de descortinamento da verdade que era desconhecimento até minutos atrás. Acredito que sim, recordo-me de pensar no silêncio que se estendeu pela espera de resposta. Mas não somente... balbuciou, sonolenta, a minha consciência. Quem não carece nessa vida, afinal? Há dias em que careço do sol esquentando as minhas costas, enquanto caminho rumo ao trabalho. Mas em outros, no quase sempre, careço mesmo da chuva tirando música do asfalto, enquanto eu cantarolo mudez, os pensamentos atiçados. Às vezes, careço de alguém arrancar de mim, aos berros, que seja, a certeza, essa armadilha que nos impede de perceber a volatilidade que adorna os acontecimentos. Não queria morrer de susto a cada certeza abocanhada pela mudança, só para renascer reticente no instante seguinte, magoada comigo mesma por não ter aprendido, na certeza anterior, lição tão importante. Porque certeza é coisa para fazer a gente doer. Careço do gosto agridoce da felicidade... Bobagem dizer que felicidade tem sabor de tutti-frutti! Felicidade é uma mistura inédita para um indivíduo único justamente porque cada um sendo cada um é possível se misturar e se adaptar e celebrar, através das diferenças, a capacidade de cultivar a igualdade. Quando careço de tempo para respirar, escapo do dia vigente, horário comercial, um minuto que seja. Escondo-me onde for, fecho os olhos e sequestro um minuto de ausência minha dos lugares e cargos que me cabem. Inexisto para o mundo, durante este minuto, voltando pronta para dar continuidade ao meu papel de pessoa responsável por mim e pelos meus afazeres cotidianos. Tudo por que a vida, muitas vezes, faz com que nos falte o fôlego. Mas ela se defende, dizendo que é para que reconheçamos a importância do respirar. Careço da palavra sussurrada, das manhãs cinzas conduzidas à base de filmes e pipoca, da mão estendida à espera do cumprimento, dos discos que um dia foram imprescindíveis, não apenas colecionáveis. E chapéus... Sou pessoa apaixonada por chapéus e que raramente os usa. Careço de ser capaz de usar chapéus, de dançar nas ruas com meus chapéus coloridos. De ser a moça doida dos chapéus engraçados. Careço da presença que não me culpe pelas culpas que já reconheço em mim. E que ela saiba fazer café, porque ainda não sei viver sem. Um dia aprendo... Quem sabe. E de cortinas se abrindo no teatro, das telas de cinema, e de frases de efeito que só fazem efeito na gente quando ditas com o gosto bom do sentimento verdadeiro. Acontece de eu carecer de mim mesma, porque às vezes me desabito, saio de mim e nem me olho de fora, apenas me afasto e o mundo segue sem me perceber arredia, à beira da vida, simulando frieza que não sei sentir. E do que mais careço é da gentileza... Soubéssemos todos do poder de transformação que ela outorga, talvez, sem certeza mesmo... Talvez fosse possível vivermos o estar em paz com a vida que levamos. Careço dessa leveza... E da canção.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
O VERDADEIRO AMOR É AQUELE QUE TE FAZ PENSAR
Muitas vezes as pessoas dizem "eu TE amo", mas, fora qualquer erro gramatical do que deveria ser um chato "amo-te", na verdade, estão dizendo "Eu ME amo". Eu TE amo porque ME reconheço em você, eu ME orgulho de você porque você tem o que eu ME orgulho em mim, eu TE admiro porque você é como o que ME admira em mim, eu TE acho inteligente porque você ME faz pensar o que já penso, eu TE acho legal porque ME acho também. Eu TE amo porque Eu ME amo em você. É tão fácil amar o espelho, apoiar o que é igual, concordar com quem vai ao encontro do que você pensa, admirar quem se assemelha a alguma parte de você. Amigos e amantes não dizem a mesma coisa juntos, isso é um coral. Amigos e amantes não se vestem da mesma forma, isso é um uniforme (ou falta de criatividade). Amigos e amantes não têm o mesmo objetivo para o país, isso é um partido político. Amigos e amantes não gostam das mesmas músicas, artistas, não têm o mesmo gosto cultural, isso é um fã-clube. Amigos e amantes não idolatram o outro, isso é religião. Amigos e amantes apenas se aceitam, se respeitam, se acrescentam com as diferenças e são felizes na presença do outro, de um outro não de uma extensão de si, e o nome disso é amor - ou maturidade, para quem não tem medo de ser mais do que se acostumou a ser. Eu TE amo porque é o que você ME desperta, por VOCÊ e não por mim.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
DOCE INVERNO - PARTE I
Viver é desfrutar do trabalho e do bem-viver, eu espero, desejo, quero. Mas de repente, tudo se me nega, não fujo, não sou do tipo de fugir. O sol de inverno aquece docemente. Já não bate em meu peito amor por um mundo velho pleno de novas formas de comunicação. Já não sabem que existe um mundo invisível. Eu quero estar incomunicável para conversar com o Deus que eu criei. Falar e ouvir a mim mesma. Depois, reaprender a falar com o tom vocal que nunca se esquece. Não tenho pesados livros para carregar no caminho, nem chagas, nem mágoas. Não tenho janela pra rua, não ando por ai seminua.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Boa Noite, Ontem.
Nessa minha pequena vida eu só quero o amor. O peso do mundo é o amor. Peço agora que não nos pese tanto. Onde ontem mesmo encontrei uma pessoa que me fez avaliar os anos. Sim, os anos se passaram feito água, mas essa é apenas uma marcação dos imensuráveis espaços entre o que vivemos. Viver e apenas viver, intensamente. Não se pode ser "mais ou menos" intensa e vendo aqueles olhos negros, penso que lês imediatamente nos meus olhos verdes. Por isso eu cá sou eu e você está onde está. Eu, não nada mudei. Continuo amando demais, onde o sol nunca se põe. Da minha maneira louca, inexplicável, irregular e simples. Do meu modo pequeno, de ser grande.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
PALAVRA AO TEMPO - FINAL
Deve ser quem descansa em meus braços, onde cabem todos os meus sonhos. Vejo seus olhos refletindo calma e mistério. Vejo-te descansando sobre mim e essa visão se encera na sua tranqüilidade enigmática. O que podemos ser além de nós mesmos? O que haveremos de fazer? Essa imagem figura como quadro mental de vidência ou realidade. Esse lugar do etéreo em que você se encontra. Talvez seja um gosto, um toque, uma fragrância talvez. Talvez seja esse olhar que se perde na brisa, e eu que perco em minhas próprias digressões. Não é uma surpresa não saber mais, não ter uma noção exata de tempo, da passagem das horas. A órbita em que vivemos. Não as prendo, deixo que as horas passem sem me aperceber do dia da noite do entardecer. Somente quando andar falar e comer, como somente para mover-me e me manter em movimento, mas sem saber o fim, senão o meio para atingir o pálido esboço de um novo fim. Como gaveta dentro de outra gaveta ad infinitum. Assim como eu, essa análise patológica acrescenta jus à minha biografia. O celibato, a fé, a temperança. Nesse mercado livre de sentimentos minhas alvas palavras voam soltas ignorantes dos limites da página do universo onde cada um escreve seu Deus, onde cada história se repete.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
DEIXA ESTAR, DEIXA EU SER
Dê-me licença de dizer, mas eu conheço esse olhar que se esgueira e que se perde dentro de si mesmo. Que me faz perquirir seu espírito vendo esse olhar que avança contra si mesmo, de improviso, conduzindo-a ao labirinto. Conheço de algum lugar as linhas que traçam esse rosto, a caixa dos sentimentos secretos. Que preza por sua dignidade quando o sol os ilumina. Conheço essa cegueira passageira de quem sai da escuridão-para-a-luz intensa irradiante. Quem não conhece? Deixe-me dizer, antes de recostar a cabeça sobre mais uma noite e o pretenso merecimento de mais um dia, que esse silêncio não durará para sempre. A voz intrínseca se externará como toda palavra que cala e toda mudez que silencia. Não faltarão perguntas, e hoje eu tenho que te dizer: aprendi todas as respostas.
terça-feira, 31 de maio de 2011
EFEITO PING-PONG
Quisera todas as noites fossem brandas e calmas e todas as mãos fossem macias, todas as almas. Quisera não amanhecer todas as segundas-feiras. Dar um salto. Segunda o sujeito chega em casa cansado da falsa liberdade do fim de semana. Assiste as notícias do sábado, os gols do domingo. Até mesmo o apresentador do telejornal está meio lento, arrastado, frouxo. Toma um banho, assiste seu seriado, come um pão com leite e biscoito Maria, fecha as janelas, confere a porta da frente.
(continua)
sexta-feira, 27 de maio de 2011
SER COMO CACHORRO
Se um cão fosse seu professor. Você aprenderia coisas assim:
Quando alguém que você ama chega em casa, corra ao seu encontro. Nunca perca uma oportunidade de ir passear de carro. Permita-se experimentar o ar fresco do vento no seu rosto. Mostre aos outros que estão invadindo o seu território. Tire uma sonequinha no meio do dia e espreguice antes de levantar. Corra, pule e brinque todos os dias. Tente se dar bem com o próximo e deixe as pessoas te tocarem. Não morda quando um simples rosnado resolve a situação.
Em dias quentes, pare e role na grama, beba bastante líquidos e deite debaixo da sombra de uma árvore. Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo. Não importa quantas vezes o outro te magoa, não se sinta culpado... volte e faça as pazes novamente. Aproveite o prazer de uma longa caminhada. Se alimente com gosto e entusiasmo. Coma só o suficiente. Seja leal. Nunca pretenda ser o que você não é. Se você quer se deitar embaixo da terra, cave fundo até conseguir. E o mais importante de tudo... Quando alguém estiver nervoso ou triste, fique em silêncio, fique por perto e mostre que você está ali para confortar. A amizade verdadeira não aceita imitações!
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Eu e Você
A delícia ao sentir beijar seus lábios. Alegria ao ver sorrir seus olhos e sorrir. Sentir o riso mais cândido e descansar a pele sobre a sua.A sensação indivisível do presente com futuro. Quando contemplávamos a estrela vigilante. Sentir seu abraço quente e desejar que parassem o caminhar das horas e o Tempo. Ver-te ir embora, levado pelo vento e o pôr-do-sol. Ao demonstrar meu afeto cantando pela rua. Descer ao ponto da despedida meu coração de criança só. Solitário. O meu junto ao seu, se tornando o nosso mundo.
terça-feira, 24 de maio de 2011
VAMOS DEIXAR DISSO?
Não tente me provocar, a sua raiva não me aborrece, só me preocupa, porque a raiva vai adoecer você. Não procure me ofender, eu cresci o bastante pra não ter mais dúvida sobre mim mesma. Não me chame pra briga, que eu não vou atender. O meu tempo é precioso e nele não cabem desavenças. Se você não gosta de mim e quer brigar, eu entendo, mas não conte comigo. Se você gosta de mim e quer brigar, eu não entendo, mas aceito. Só presta atenção pra não me magoar. Isso, sim, me entristece. Vamos deixar disso, então. Já briguei muito, já magoei, já ofendi. Mas não fiquei nem um pouquinho melhor com isso. Venho me curando da vontade de brigar, desde que aprendi a calar. Então, se você gritar, só vai escutar o meu silêncio. Se seguir ofendendo, eu me retiro. Se insistir na raiva, que pena. Só você vai sofrer. Ok, pode dar a última palavra, ganhe a disputa! Eu não me importo de ceder a vez. Eu escolho viver em paz.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
SEGUNDA VIDA
Muita gente perde muito tempo, se perdendo em nada, por nada.
Hei cara, o que está acontecendo? Você parece que não me conhece. Você acha que me conhece? Sei que nenhum sofrimento do passado justifica coisas que fazemos agora. O que você pensa que eu sou? Existe uma lacuna entre o que existe e tudo que você gasta sem saber que o Espaço muda as pedras, as águas mudam imagem em movimento. Percebe? Há uma distancia entre você e a realidade. A realidade é retornável? A realidade é um conceito relativo. Em cada espaço que você não conhece há uma realidade. Quando nos perguntamos o que é normal. Isso é uma afirmativa? Você não sente, não vê? Porque fechas os olhos assim? Você tem um nome, você tem uma história que hoje não me importa saber. Eu troquei as vértices. Rasguei a máscara que trazes na face e as que vês. E as pessoas me vêm. E como eu posso ser invisível pra você? É importante que tenha a resistência do ferro, mas que seja de suave e leve como a pluma. Então vamos caminhar juntos pelas ruas cultivando as estrelas. Muda a perspectiva. Muda a estrutura. Há um ponto de fuga. E você está preparado para enfim enxergar?
BELO DIA
Aparecendo de vez em quando olhar para o céu,
respirando o ar.
Não se preocupar em saber porque. Fico feliz em falar com você. Não sei se vou ter a oportunidade novamente. O planeta em que vivemos foi cortado em dois. Um lado de mim, um de você. Fique bem consigo mesmo. Deixa fluírem as águas do rio Vida. Deixa que se vá com ela. Admira de longe, assim como quem observa a Lua. É só um detalhe. Admira a impermanência de todas as coisas materiais. Somos eternos. Hoje eu descobri que o solitário escreve sobre a solidão, o confuso escreve confusamente, o apaixonado escreve sobre o amor. A felicidade é tão simples que as pessoas teimam em não querer alcançá-la. Sobre a felicidade, Carlos Drummond de Andrade escreveu:
respirando o ar.
Não se preocupar em saber porque. Fico feliz em falar com você. Não sei se vou ter a oportunidade novamente. O planeta em que vivemos foi cortado em dois. Um lado de mim, um de você. Fique bem consigo mesmo. Deixa fluírem as águas do rio Vida. Deixa que se vá com ela. Admira de longe, assim como quem observa a Lua. É só um detalhe. Admira a impermanência de todas as coisas materiais. Somos eternos. Hoje eu descobri que o solitário escreve sobre a solidão, o confuso escreve confusamente, o apaixonado escreve sobre o amor. A felicidade é tão simples que as pessoas teimam em não querer alcançá-la. Sobre a felicidade, Carlos Drummond de Andrade escreveu:
"Sobre mesa simples objetos
O amor, os filhos, os netos."
O amor, os filhos, os netos."
As flores hoje, são pra mim
Existe apenas um jeito de subir. Mantidas as rotas de fuga, tenho que ir. Seguindo e crescendo de um exercício diário de paciência. Todos e todo mundo. Assim seguimos fazendo a revolução em nossas vidas e admitindo que um dia, apenas um dia... , faremos o que for necessário por um instante de glória, pouca que seja. E por merecimento ficaremos na mesa depois e depois da sobremesa. Sinto informar, mas andamos pelas laterais. Tenho que ir... descontente da própria urgência. Sigamos!
terça-feira, 17 de maio de 2011
SUCESSO
Não existe fórmula única para o sucesso, pois há diversos caminhos para se chegar lá. Você já deve ter ouvido isso diversas vezes, mas sempre vale a pena lembrar: há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam. Se você desistir, restará sempre a dúvida do "se". Nem sempre é possível conseguir da primeira vez, e isso não representa motivos para a desistência pura e simples. Só erra quem tenta e a melhor forma de aprendizado é por meio da análise e entendimento dos próprios erros. Aprendemos muito mais com os erros do que com os acertos, mesmo porque sempre quando acertamos tocamos em frente e não damos conta do caminho que utilizamos para conseguir acertar. Lembre-se de que quem bate esquece, quem apanha não esquece jamais, e vai sempre se lembrar do tombo ou da surra que levou e, principalmente, recordar-se-á da forma, dos atores e demais condicionantes do cenário em que o erro aconteceu.Os alpinistas quando escalam uma montanha, os exploradores quando entram em uma caverna e os navegantes de mares abertos sempre registram o caminho trilhado para saber o que terão de fazer na viagem de retorno, ou para empreenderem uma nova viagem. Boa sorte na conquista da NOSSA liberdade!
terça-feira, 10 de maio de 2011
COISA RARA
Pessoas dedicam a vida ao trabalho. O trabalho e ao conhecimento. Algumas pessoas trabalham com pessoas, com as tripas de pessoas, costurando, operando, manipulando a ciência humana com as mãos... Outras desenham, pintam, compõem, dançam, criam. Há os que trabalham nas indústrias, no chão das fábricas e nos gabinetes. Claro, os gabinetes, as leis dos homens, os homens. Onde não há homens não há justiça. Essa é uma percepção da razão. A luz da lua, silenciosa e clara, coisa rara. Há tempos dedico-me a essa excrescência ornamental. Feche os olhos, apenas feche os olhos.
domingo, 8 de maio de 2011
UM PÉ DE TÊNIS VELHO
Junto às estrelas, os ventos da noite são ventos de mudança. Minha letra ficou mais bonita, meus traços estão mais firmes. Um pé de tênis velho traçando os mesmos velhos lugares. A sorte me pegou nessa vida. A busca da verdade ainda divide opiniões. Não há cascos de navio boiando na superfície do mar, não há evidências de naufrágio. Pelo contrário, cada minuto de remição parece uma eternidade de paz. Creio que é assim que se provome uma mudança. Jogando fora tudo aquilo que não serve mais pra nada. Livrando-se do exesso de coisas. Meus pés de tênis ficaram velhos. Abeirando a noite adentro e mais escura, se avizinha também meu sono precoce a sonhar com as novas projeções. Minha mãe me disse que sou cigana. O quarto está cheio de mim, cheio de planos, cheio de quadros, cheio de sonhos e realidades.
Por serem pais, quando ainda precisam ser filhos
Querida mãe,
Sei que o calendário marca hoje o dia certo para as mães, porém seu dia é todo dia, o dia todo. Esse é o momento propício pra quem escreve, pra quem acredita em inspiração. Ainda preciso aprender muita coisa com a vida. Com os novos tempos que estão chegando, meu ciclo de vida onde nada é natural e tudo é cultural, a realidade que se impõe diante dos meus olhos... A aventura da modernidade, Deus, alma, mundo... Mas bem, queria dizer nessa cartinha que, em todas as áreas do conhecimento, você acrescentou muita coisa com a sua sabedoria. Ensinou-me valores morais, valores familiares, e principalmente a maior de todas as virtudes, a caridade. Te amo mãe... Um amor de quem é e sempre será eternamente grata pelos seus cuidados e jamais deixará de te amar. Aliás, quero desejar um feliz dia dos pais a todas as mães. Porque elas são mães e são pais. Elas nos carregam alguns bons meses na barriga e já se tornam mãe antes de nascermos. Os pais tem que esperar a gente sair da barriga para começar a conceber o que é ser pai e ainda assim muitas vezes não conseguem. Mãe é mãe, mãe é pai. Pai é pai. O coletivo pais inclui as mães e os pais, mas o coletivo mães não inclui os pais. Talvez porque toda mãe sabe ser pai, mas nem todo pai sabe ou pode ser mãe. Feliz dia das mães.
sábado, 7 de maio de 2011
SEMELHANTES DIFERENÇAS DESUNEM CORAÇÕES
Acredito que o mundo se tornou um tanto superficial, os olhares hoje são outros e os rótulos são variados. Como habitar esse hábito? Como viver? Uma questão que tento desvendar todos os dias. Deixo o ponto de interrogação na sua mente, na minha mente. Falar de igualdade racial, social, sexual, seja lá qual fôr é facil, mas pense bem, você pratica? A hipocrisia está dominando o mundo minha gente, abra os olhos ou melhor abra a mente. Não somos uma mercadoria qualquer em uma prateleira do supermercado para receber um rótulo barato. Somos brancos, negros, pardos, índios, altos ou baixos, acima de tudo somos gente. E eu sou crente que um dia poderemos viver igualmente, sem nenhum olhar torno, nem fala baixa. Em um mundo não haja discriminação, divisão, definição de diferenças fúteis. Afinal, não deixe que te coloquem rótulos, mude sempre as etiquetas.
terça-feira, 3 de maio de 2011
PALAVRA AO TEMPO - PARTE III
um compromisso com o acaso
Alguns chamam de sorte. Os freudianos chamam de sincronicidade, de sincronia, ou sincronismo, tem a ver com tempo. Cronos engole seus próprios filhos, a poeticidade na interpretação da cronologia, essa fome sinistra. Outros chamam de coincidência, enfim, existem vários nomes para o acaso – fado, destino, sina, ventura, sincronia, simultaneidade, concomitância. Pode escolher. Esse último, o acaso, segue um movimento caótico, acidental, quase mórbido, de suspense, batimentos cardíacos, adrenalina, alívio. Transcendental, percebe? Um movimento não retilíneo e não constante em velocidade. Só não se pode mesurar, medir, criar, inventar ou fabricar um conceito novo capaz de explicar os porquês etimológicos da natureza humana e quantificar e qualificar e tudo aquilo que foge da natureza simplesmente humana, demasiadamente humana, a imaginação, abstração. Roubaram-me uma crença, quando eu era criança. Como roubam-te cá e lá ao longo da vida.
Alguns chamam de sorte. Os freudianos chamam de sincronicidade, de sincronia, ou sincronismo, tem a ver com tempo. Cronos engole seus próprios filhos, a poeticidade na interpretação da cronologia, essa fome sinistra. Outros chamam de coincidência, enfim, existem vários nomes para o acaso – fado, destino, sina, ventura, sincronia, simultaneidade, concomitância. Pode escolher. Esse último, o acaso, segue um movimento caótico, acidental, quase mórbido, de suspense, batimentos cardíacos, adrenalina, alívio. Transcendental, percebe? Um movimento não retilíneo e não constante em velocidade. Só não se pode mesurar, medir, criar, inventar ou fabricar um conceito novo capaz de explicar os porquês etimológicos da natureza humana e quantificar e qualificar e tudo aquilo que foge da natureza simplesmente humana, demasiadamente humana, a imaginação, abstração. Roubaram-me uma crença, quando eu era criança. Como roubam-te cá e lá ao longo da vida.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
VIDA PROVISÓRIA
Há momentos em que a vida não parece ser vivida. Nos sentimos passando pelos dias, ultrapassando as horas, chegando ao fim de mais um dia, mas sem saber por que e para quê. Já se sentiu assim? Eu já! Sonhos se tornaram reais, tudo aconteceu, mas sinto que nada mudou, ou tudo mudou e não sei lidar com isso. A vida parece provisória, indefinida, transitória. Talvez por que a gente sonha e se esquece que um dia será preciso acordar dos sonhos e nem sempre eles acordam junto com a gente. Que pena... Ganhei pontos, venci inimigos, peguei vidas extras, mas não sei como tudo irá terminar. É duro não sentir certeza - por mais que eu adore os benefícios das dúvidas - não sentir firmeza nos passos que se dá, nem no chão por onde se pisa, é difícil. Desconheço os caminhos por onde passo, não reconheço alguns companheiros de estrada, sinto falta dos que seguiram por outros rumos, mas continuo caminhando, esperando o momento em que tudo se esclareça e eu tenha certeza de como serão os dias daqui para a frente. O indefinido assusta, o incerto amedronta. Nunca é fácil lidar com as mudanças e como as coisas mudam, como eu mudei! Mudei e talvez por isso sinto a vida como provisória, acho que, na verdade, percebi, finalmente, que a vida é provisória, pois ter certeza demais, saber como tudo será não tem graça, não é mesmo? Há uma explicação para todas essas sensações: vida adulta! Crescer não é fácil, é o mais difícil processo, principalmente porque você só percebe que está crescendo quando já cresceu e até entender isso, as coisas complicam bastante... Tem hora que dá vontade de acelerar o calendário e imaginar como estarei daqui três, seis meses, um ano! Mas de que adiantaria? A vida só vale a pena quando é vivida, sentida, então se há dúvidas é porque sinto, porque vivo. Tem quem diz que a "única certeza da vida é que vamos morrer", lamento por serem tão pessimistas assim. Inventei outra crença para eu me agarrar: A ÚNICA CERTEZA DA VIDA É QUE VOCÊ TERÁ QUE VIVÊ-LA! ENTÃO, FAÇO-O DA MELHOR FORMA! O medo é o que nos move, nos motiva. Um dia uma amiga me ensinou que sempre superamos o que achávamos ser nosso maior medo: "um dia você já teve medo do escuro, não é?". Tive sim, eu já tive medo do escuro, hoje ele não me assusta mais. Assim será com todos os medos, eles vão passar. Vida, vida, provisória, pós-adolescente, pré-adulta. Vida, vida, provisória, se aloje, se aquiete, me conforte! Quando tudo acontece e nada muda, você é que mudou e tudo ainda vai acontecer!
domingo, 1 de maio de 2011
PALAVRA AO TEMPO - PARTE II
Hoje não houve entardecer. A noite caiu simplesmente, mas a lua ainda brilha no céu. Foram longos os entardeceres que passei diante dessa janela, pensando na vida, na sua vinda. Vejo que estou a poucos metros e alguns quilômetros de alcançar a chegada do tempo. Estou me observando a cada instante. Na prateleira onde coloquei as lembranças. Nas frases clichê da vida. Estou me vendo, me policiando. Mas não da palavra! A palavra fura e rasga. A palavra empunhada, apunhalada, punhaladas. Nada permanece. Quando bela, quando triste. O sol logo amanhece. Porém só um dia, o porquê se levanta. A gente entende, sorri e anda.
PALAVRA AO TEMPO - PARTE I
Estou sentada numa pedra no alto de um rochedo observando as gaivotas. Ouço barulho do vento contra a falésia. O pio das gaivotas, quando encontra o eco, se perde no ar. Sob o ordeiro ar da brisa suave onda desliza em nosso calmo remanso. Meus olhos deslizam sobre o mar. Desço descalça, quero conhecer o caminho das pedras. Na beira da praia minhas pegadas fazem o caminho. Tenho mais ou menos uns dezoito anos. Sei, por intuição, que sou uma das mais velhas da minha turma. Nossa praia não tem onda. Já se passaram séculos e eu ali... No alto do rochedo, pensava na solidão de todas as vidas. Vejo os homens e mulheres e até as crianças ajudando a juntar pedra para um funeral. Olhares recaiam sobre mim. Todos fizeram as suas orações. Pedi aos homens não deixarem suas mulheres chorarem, que já tudo havia terminado, que se fez o ciclo. Pois no fundo mora nossa própria fragilidade exposta num corpo sem vida. Lembro de dar meu dedo mindinho da mão a uma criança pequena que me acompanhava. As mulheres e os homens então prendiam o choro. Sentíamos a grande a perda fazer-se um vazio em nossos corpos. Como uma cabeça sem cérebro, um cérebro morto. E era isso que nos coordenava que havia morrido. De madrugada sinto minha respiração plena e calma. O perfume das floras aromáticas muito macias, camada sobre camada, sobre as quais dormia. Caíram sobre nós aquelas gotículas de energia que brilha. E caíam essas gotinhas refletidas pela luz das estrelas e da lua. Caíam sobre nós e nem víamos. Eu podia ver como se estivesse no céu. E eu estava,e eu estou.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
EM BUSCA DOS PODERES!
Quando eu era mais criança que hoje eu queria ser igual o Super-Homem. Alguns anos depois descobri que ele era um E.T. e usava a cueca em cima da calça. Desencantei. É fácil para um não humano fazer o que ele faz. Mesmo assim, tentei voar como ele. Quebrei um dente na janela e resolvi mudar de herói. Conheci o Batman. Ele não tinha super-poderes, mas mesmo assim era um super-herói. Gostei da vida de superação. E ser herói já é muito, para que ser super? No fundo, todos nós queremos salvar o mundo (não é só a Madonna), enquanto não conseguimos nem nos salvar. Pretensiosos, bondosos e estúpidos candidatos a heróis somos nós. Pedia todos os dias para ser como o Batman e salvar o mundo do mal. Fui crescendo e deixei de querer ser herói. Me contentei com querer alguém que me salve. Deus salve a Rainha, Batman salve a Gothan e quem vai me salvar? Como eu vou me salvar de mim? Não há cinto-de-utilidades, capa ou máscara que alivie as dúvidas e dores de se viver. Nunca encontrei o Batman, mas descobri que o mundo está lotado de pessoas que também usam máscaras. Máscaras para tirar um pouco da cor do mundo, para destruí-lo e não salvá-lo. Vilões que com palavras cortam mais que a faca do Coringa. Se meu pranto, meu grito e minha esperança é algum tipo de Bat-Sinal, anda logo Batman, antes que eu descubra que os heróis também são mais uma das ilusões que inventamos para acreditar em dias um pouco melhores que os de hoje.
"Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontramos um Deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter o centro da nossa própria existência. E lá onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo”
(Joseph Campbell)
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